Amputados ou invisuais, há desporto para todos em Fiães

20 junho, 2019 às 13:36
André Gouveia / Global Imagens

O Clube Desportivo de Fiães, Santa Maria da Feira, aposta no desporto adaptado para todos. Goalball, involei, voleibol sentado, boccia são as apostas do clube, que, há dois anos, abriu as portas a pessoas com deficiência do concelho e não só. Os praticantes não pagam.

António Oliveira perdeu as duas pernas depois dos 57 anos, por culpa do tabaco. José Martins, 40 anos, há quatro que perdeu a visão num acidente de camião. São atletas do Desporto Adaptado do Clube Desportivo de Fiães, que começaram a praticar depois de a vida lhes tirar o tapete.

"Não há cá nenhum clube autónomo com uma secção destas. Começou por um sonho", conta Rita Lei, do clube que há dois anos organizou um "open day" com associações. "Começámos com dez atletas e já somos mais de 40". Chegam de associações como a Casa Ozanam, AMICIS ou ACAPO, gratuitamente. O propósito vale mais que o investimento: "Por época, precisamos à volta de cinco mil euros. É um sacrifício gigante. Mas vale a pena vê-los evoluir", diz.

E há modalidades para todos. No goalball, oito pessoas invisuais e com baixa visão, ao fim de duas épocas, já disputaram o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal. Vendas nos olhos, guizos na bola e cordas coladas ao piso para identificarem o terreno. "Quando me apareceu a oportunidade para praticar, agarrei-a. Permite-me conviver com pessoas como eu e partilhamos muita coisa". José Martins era motorista e deixou de trabalhar depois do acidente que lhe roubou a visão. O goalball é a única coisa que faz. "Tive de aprender tudo de novo, esta é uma conquista". Treinam três vezes por semana. "Ao início, as bolas passavam por mim e eu nem dava conta. Ajudou-me na orientação e, acima de tudo, no espírito de equipa", diz Tiago Vidinha, que cegou aos três anos. Há atletas dos 14 aos 75 anos, alguns com deficiência intelectual a dar cartas no involei. Quando chegaram, nem uma bola conseguiam arremessar, agora jogam uns contra os outros. "A evolução é gigantesca ao nível da coordenação", comenta a treinadora Rute Miranda. A mudança é tal que Virgílio Pinto, praticante, até se sente "mais atlético".

destaqueDo vólei ao surfcentro

Quando se baixa a rede, é a vez do voleibol sentado, com atletas amputados. António Oliveira, 63 anos, tira as próteses para jogar. "As pernas só estorvam", atira. Fumava quatro maços por dia e amputou as duas pernas. Percorre 40 quilómetros, entre a Maia e Fiães, só para treinar. "Fazer parte de uma equipa é bom e ajuda a nível psicológico". Além das associações, já aparecem atletas por iniciativa própria. No dia 20, o clube vai testar uma nova modalidade: surf adaptado a invisuais, na praia de Cortegaça.